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  • Foto do escritorAndrei Moscheto

Minhas conclusões (neste momento da vida) sobre a validade de formatos competitivos de improvisação

Este é quase que um registro em forma de diário, bastante focado no universo da improvisação teatral. Se alguma palavra, termo, não ficar claro pelo jeito solto da escrita, mil perdões


Acabei de passar por uma dessas experiências que são muito reveladoras, tanto para o artístico quanto para o pessoal: ajudei a produzir meu quarto evento de formatos de improviso em Curitiba-PR, logo aqui no sul do Brasil.


- O primeiro foi numa função quase curador/participante, que se chamava Risológico, em 2012. Não me preocupava com produção, estava mais focado no contato com artistas e tive alguma liberdade para organizar a grade de apresentações.


- O segundo e o terceiro foram em 2016 e 2017, chamavam Curitiba Improvisa e estavam sob a chancela do Antropofocus, ou seja: tanto de atrair o público como de ajudas de co-produção, havia o apoio de um coletivo bastante firmado na cena local. Tanto a primeira quanto a segunda edição tinham o tripé formatos de impro, workshops e bate-papo formativos que, até agora, me parecem ser o mínimo que um evento desses deva proporcionar a sua cidade.


- O terceiro e mais recente foi a MoiM - Mostra de Impro, que reuniu coletivos curitibanos ligados a improvisação em torno do projeto de fazer um evento sobre essa arte dentro do Festival de Teatro - que implicava na dúvida de saber se, entre outros 300 eventos, o nosso chamaria a atenção o suficiente para ter público em suas sessões (teve, tudo lotadinho!)


Me perdoe a redundância, pessoa que está lendo, de dizer que cada um desses eventos colaborou com o meu desenvolvimento pessoal, com a compreensão da importância das conexões interpessoais e (o motivo desse registro escrito) com o conhecimento da linguagem da improvisação.


Eu lembro de sonhar, quando era criança, que um dos meus três desejos ao gênio da lâmpada seria o da onisciência. Na minha fantasia saber de TUDO seria sempre algo muito gratificante, esclarecedor e positivo. Neil Gaiman e outros autores foram me alertando, ao longo da vida, que os nossos desejos infantis - quando plenamente realizados - podem ter consequências bem diferentes daquelas fantasiadas por nós.


O principal ponto da consciência adquirida, que começa a dar uma atazanada no seu subconsciente, é que, ao cair das luzes do quarto evento de improviso, fica uma palpável dúvida no ar da validade de (ainda) se fazer formatos de improvisação que tenham caráter "competitivo".


Os formatos "competitivos" de improviso, pelo menos os que eu venho dirigindo, tem a competição como forma de oferecer aos espectadores uma macro estrutura que vai além da execução das cenas improvisadas - ou seja: além de curtir as cenas em si, o espectador também poderia se conectar com a dinâmica esportiva, numa relação com o espetáculo que vá além da apreciação teatral - conceito que foi defendido tanto por Bertold Brecht como pelo pessoal que produz luta livre. Sempre explicamos para os participantes dos formatos ditos "competitivos" que a competição não é real, que a falha é mais que bem-vinda, que o importante é a atenção ao outro, que o objetivo é proporcionar uma excelente noite pra plateia.


Porém...


Será que dá mesmo pra alguém que teve sua cena rejeitada, por aplausos ou qualquer outra forma, deixar pra lá e ficar de boas? Será que dá mesmo, para os que tiveram "sucesso" naquela noite, serem superiores a qualquer sentimento comezinho de auto celebração, quando passamos a maior parte de nossas carreiras em dúvida do nosso talento ou técnica e sonhando com a algum nível de certeza e segurança? Fiquei pensando isso, especialmente, porque em festivais e mostras você não está trabalhando exclusivamente com o pessoal do seu grupo, é uma grande (e incrivelmente divertida) reunião de improvisadores com as mais variadas formações e experiências.


Eu entendo (ou acho que entendo) qual é a validade desses formatos: prover um espetáculo entre pessoas com mais e menos experiência em improvisação, no qual os artistas estão defendidos pelas pessoas na posição de direção e o espetáculo está defendido, em sua macro estrutura, pelo falsa competição que oferece uma curva dramática e um ápice a ser alcançado ao longo de uma sessão. Mas, quando as sessões terminam e vejo mais conversas sobre a vitória de alguém do que sobre as cenas realizadas naquela noite, fico me perguntando se estou ajudando a promover algo que possa vir a ser um mal hábito dentro da improvisação.


É bom ressaltar e deixar bem claro: esta não é uma conclusão baseada na experiência dentro da última mostra. Essa é uma pulguinha atrás da orelha desde a primeira, em que eu me lembro dos comentários, após o espetáculo, sobre vencer ou não, e que tínhamos aquela decepção por alguém ter jogado apenas no começo e ter saído sem improvisar mais. A competição realmente trouxe algo a mais, ou ela simplesmente atrapalhou as possibilidades de ser fazer mais uma cena que tivesse colaborações extras dos outros improvisadores?


Eu reli um artigo que escrevi, neste blog, sobre o início da experiência com formatos competitivos (se quiser ler está aqui) e tendo a achar que existe uma demanda mais complexa em relação a condução da apresentação e do treino para a apresentação, duas etapas importantes e que merecem cuidados ainda maiores do que aqueles que tenho oferecido. Estou naquela vontade enorme de voltar a prancheta e repensar a forma de conduzir formatos que tenham competição - esses que já dirijo e outros que tenho vontade de experimentar - em especial para defender a experiência de cada artista convidado e, quem sabe, extrapolar a experiência da plateia.


Como eu não tive meu desejo realizado por um gênio, tomei a consciência parcial de mais um pedaço da realidade. Então, sabendo que ainda tenho muito mais a perceber, chego a conclusão (neste momento) que é mais que necessário buscar alternativas que ofereçam os mesmos pontos positivos aos envolvidos na apresentação e não incutam hábitos pouco saudáveis no universo da improvisação.


Andrei Moscheto


Imagem usada no destaque de Sergio Souza




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