Não falo com estranhos
- Andrei Moscheto
- 13 de jan.
- 2 min de leitura

- Bom, é isso. O que você acha?
- Desculpe, mas eu não falo com estranhos.
- Ah, boa! Divertido.
- É muito sério.
- Você não fala mesmo?
- Não falo.
- Nunca?
- Nunca. É coisa da minha criação, sabe? Minha falecida mãe, que Deus a tenha, me ensinou isso.
- Ela morreu como?
- Num incêndio. Se recusou a ligar pros bombeiros. Uma mulher com valores, até o final.
- Curioso, como ela conheceu seu pai?
- Namorou à distância, até que o padre apresentou ele durante a cerimônia, com nome completo e tudo. Tiveram que pausar a cerimônia por três horas, de tantos assuntos que um tinha com o outro pra desenrolar antes de dizerem sim.
- Você é casada?
- Moço, não falo com estranhos e com o senhor eu já falei demais!
- Você veio aqui por conta da Divanize, não é? (ela fica em silêncio) Não precisa me responder, só balança a cabeça se sim ou se não. (ela balança que sim) Perfeito. Álvaro, chama a Divanize pra mim, por favor?...
- Oi Rubens. Deu tudo certo?
- Vou descobrir logo. Divanize, você poderia por favor me apresentar sua amiga?
- Mas... Vocês não estão aqui faz meia hora?
- Quase isso...
- Ah! Ela não fala com estranhos, desculpa Rubens, esqueci.
- Me apresenta ela, por favor?
- Rubens é o gerente sênior aqui do departamento, um profissional excepcional. Clara é uma amiga da faculdade, uma das melhores da turma. Só começou a falar comigo no terceiro ano, depois que levei meu currículo acadêmico completo, com histórico escolar do ensino médio.
- Muito prazer, Rubens, encantada.
- O prazer é todo meu. Obrigado, Divanize. (Divanize sai da sala) Então, Clara, estou curioso... Como é que você pretende trabalhar aqui no setor de Atendimento ao Cliente com esses seus... Valores?
- Ética profissional, Rubens.
- Não entendo.
- Na vida, não falo com estranhos. No trabalho eu só falo com estranhos.
- Você foi feita para este trabalho, não temos um cliente que não seja estranho.
- Será um prazer ajudar.