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Conto: uma estória é uma história

  • Foto do escritor: Andrei Moscheto
    Andrei Moscheto
  • 21 de dez. de 2008
  • 4 min de leitura

Vemos dois homens se escondendo num beco escuro. Suas roupas são batas pobres, de um tempo antigo e eles estão arfando de cansaço. Sons de soldados passando, perto do beco, e continuando a correr para longe.

– Pronto. Os romanos foram embora.

– Os romanos são o menor problema.

– E agora, profeta? O que você vai fazer?

– Ainda há muito a ser feito, Tobias. Meu trabalho mal começou. Devo perpetuar as palavras de meu pai para todo o sempre nesta terra. Esta foi a missão que o meu nascimento e o meu batismo puseram sobre meus ombros.

– Então é um fardo, profeta?

– Não, Tobias. É um caminho.

– Aquele rapaz, senhor, ele…

– Sim, ele vai morrer. Mas mesmo perante a sua morte, devemos acreditar no nascimento de mais um dia.

– Profeta, a morte de qualquer um não deveria ser um pecado que…

– O assassinato de qualquer um é pecado, mas a morte dele vai evitar o derramamento de sangue de muitos. Assim espero.

– Como, profeta?

– Não sei se contar a você vai aliviar a sua dor ou aumentá-la ainda mais, meu amigo. Talvez seja melhor que você parta daqui e envelheça com segurança. Tomemos caminhos opostos, para que você desfrute o resto da sua vida em paz. Você já fez o bastante em nome do meu Pai.

– Nunca, senhor! Estarei com você até o fim dos dias.

– …Você é um bom amigo, Tobias. Agradeço muito a sua ajuda, e precisarei muito dela. Acredite. Agora vamos esperar mais algumas horas, até que o sol nasça e possamos nos misturar aos habitantes desta cidade.

– Sábio como sempre, senhor. Mas eu poderia saber qual é o plano? Como faremos para espalhar a palavra do Pai, depois dos acontecimentos desta noite? Tivemos a comprovação que Roma é contra as suas palavras, e logo eles o acharão. O caminho do calvário parece certo.

– Sei disso, Tobias. Levei muito tempo meditando e orando, para chegar a uma conclusão dolorosa, que me levará a um destino sofrido sobre esta terra. Envolve o nosso amigo, aprisionado esta noite.

– Como assim, Senhor?

– Quantas vezes você ouviu alguém perguntando se éramos irmãos de berço, Tobias?

– O senhor e o rapaz? Muitas vezes. Durante a peregrinação, muitas pessoas pediam a ele conselhos e bênçãos.

– Foi por isso que o plano teve sucesso. Esta noite, ele foi levado em meu lugar e, agora, tenho a chance de levar a Palavra para muitos, até os anos finais da minha vida.

– Mas senhor, aquele pobre carpinteiro não tinha noção do que estava colocando em jogo.

– Tobias, chega! Por mais simples que fosse em pensamento, Jesus tinha noção do sacrifício que iria fazer.

– Eu não desejo discutir com o Senhor.

– E eu não desejo discutir comigo mesmo novamente este assunto. Não pense, em nenhum momento, que esta foi uma decisão fácil, Tobias. Eu passarei o resto da minha vida terrena sendo odiado por este dia e Jesus, se o meu plano der certo, ficará para todo sempre, lembrado como o filho de Deus que…

– Sacrilégio! Você é o filho de Deus!

– Basta, Tobias! Fale baixo, ou o sacrifício de Jesus terá sido em vão.

– Eu não posso permitir que esta mentira se perpetue, se na verdade…

– …Se na verdade o que importa é a mensagem, não o mensageiro. Acredite em mim, Tobias. Os atos desta noite podem levar a perpetuação da Palavra de meu pai de um modo que nem mil discursos sobre montes levariam.

– Como, senhor?

– Depois que Jesus morrer, ele será enterrado nos jazigos de pedra. Alguns dias depois, durante as orações do terceiro dia, ele reaparecerá vivo.

– Mais um milagre, Senhor?

– Assim espero que pareça, tudo depende de como farei o meu papel de Jesus. Devo me manter a distância, e espero que o susto proíba a todos de se aproximarem. Acredito que esta história rapidamente se espalhará, nesta cidade sequiosa por contos de fadas. Este é o estopim para as histórias de um homem virtuoso, que fez milagres em lugares distantes, que foi imaculado pelo sangue feminino. Este homem é alguém de quem as palavras de um ser onipotente podem surgir.

– Um… engôdo? Não creio que o plano de enviar a mensagem de Deus vá surgir de um truque, ensangüentado por um carpinteiro inocente.

– Tobias! Chega!

– Mas senhor, tudo o que fizemos…

– Terá sido em vão, se a mensagem não for espalhada.

– Mas…

– Alguma vez eu te falhei, Tobias? Alguma vez escutaste alguma mensagem de Deus que não mereceria chegar aos ouvidos do mundo? Se a Palavra chegar a Roma, eu tenho certeza que tudo de bom acontecerá aos homens. O que importa é a Palavra, Tobias.

– Você enlouqueceu! Você vai matar um homem em seu lugar, quando é você que deveria ter a coragem de ir a cruz, em nome da sua mensagem!

– A mensagem de Deus! (puxa uma faca e atravessa o corpo de Tobias, que pende até ajoelhar-se)

– …Porquê?

– Porque assim é necessário, meu amigo. Desculpe te revelar a verdade assim, tão repentinamente. Você não estava preparado para ver a luz. Descanse em paz. Meu nome será perdido pela história, pois assumirei outros nomes para que a Palavra siga em frente.

– Isso nunca… acontecido, Judas.

– Descanse. Logo, você estará ao lado do meu Pai e ele te dará a acolhida necessária. Assim eu espero. Assim eu sonho.

 
 
 

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(mas isso você já sabia)

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