Bom mesmo!
- Andrei Moscheto
- 14 de fev. de 2014
- 2 min de leitura
Uma tevê pisca sobre um sofá e um senhor, de mais de 60 anos. A tevê esta baixa e o senhor, de nome Fernando, não parece nada feliz com o que vê nela. Uma mulher jovem entra na sala.
Fernando – Nossa, que barbaridade! Quanta nojeira!
Mulher – O que foi, seu Fernando?
Fernando – Esse mundo, virado do avesso. Cheio desses baderneiros.
Mulher – Verdade. Esta difícil.
Fernando – E toda essa violência, esses assaltos. Um caos completo.
Mulher – Tomara que alguma coisa mude. E logo.
Fernando – Seria necessário voltar no tempo!
Mulher – Não entendi.
Fernando – A gente volta no tempo, para quando a vida era mais simples.
Mulher – O senhor diz… com menos tecnologia?
Fernando – Não, não. Um tempo onde a vida era boa, calma, sem bagunça. Bom mesmo era no tempo da ditadura.
Mulher – Você não pode estar falando a sério…
Uma porta no fundo é arrombada. Entram quatro homens com aparatos paramilitares.
Mulher – Ei! Vocês não podem entrar aqui. Isso é…
Um dos homens golpeia o rosto da mulher, que cai desacordada. Fernando se levanta.
Fernando – Que balbúrdia é essa?
Os quatro homens param, tiram seus capacetes e olham Fernando com respeito.
Sargento – Senhor Fernando. A nossa corporação tem muito a agradecer ao senhor, nesta data comemorativa.
Fernando – Eu… Não entendo o que…
Sargento – Durante anos nós esperamos, a margem da sociedade, que um número certo de brasileiros apoiassem a volta dos tempos da ditadura. Foram anos difíceis, perdemos alguns integrantes que não conseguiram manter a esperança. Mas hoje, graças ao senhor, atingimos o número certo!
Fernando – Mas eu…
Sargento – O senhor é um herói! Pois só nos faltava isso: mais um único cidadão de bem que quisesse a nossa volta. Muito obrigado por tudo. Infelizmente, temos que ir.
Fernando – Mas e a menina que vocês…
Sargento – Apenas uma incontingência da nossa batalha. Soldado, leve essa subversiva daqui.
O homem arrasta a mulher para fora da sala, pela porta arrombada.
Sargento – Muito obrigado. E lembre-se: é graças a cidadãos de bem, como o senhor, que podemos voltar a atuar hoje em dia.
Os soldados começam a colocar o capacete.
Fernando – Mas… Era uma força de expressão… Eu não…
Os soldados terminam de colocar os capacetes e o sargento chega bem próximo a Fernando.
Sargento – Desculpe, eu não entendi. O senhor mudou de ideia? O senhor esta pensando diferente?
Fernando – …não.
Sargento – Não, SENHOR!
Fernando – Não… senhor.
Sargento – Não, SENHOR! E sem hesitar, senão você vai acompanhar a sua amiguinha até a base.
Fernando – NÃO, SENHOR!
Sargento – Estamos entendidos?
Fernando – Sim, SENHOR!
Sargento – É bom mesmo.
Eles saem. Fernando, sozinho, chora.







Comentários